"ILHA A ILHA. DOR A DOR. AMOR A AMOR"

(Ovídio Martins)

BEM-VINDO - NHÔS TXIGA

NOVO ANO E REGRESSO.

Ainda sem o aparato das TIC, pretendo, lepetê lepetê (como dizemos em Santiago), partilhar os pensatempos que me saltam das mãos e do peito. Mantenha txeu!

DE SANTO ANTÃO A BRAVA

DE SANTO ANTÃO A BRAVA
O nosso Cabo Verde se faz em segunda sementeira, nas três pedras do fogão, no tomar da benção e no rabo de enxada

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Kurubáti

Nhos txiga!
"Srs. Pasajeru,
Ali sa ta papia nhos kumandanti Ferreira ki ta da nhôs boas vindas a bordo de TACV - Cabo Verde airlines(Transportes Aéreos de Cabo Verde). Nos viaji pa Praia ta dura 3h e..."
ESTA FOI A FRASE MAIS LINDA QUE EU OUVI NOS ÚLTIMOS 18 MESES. PENSO...
NADA A VER, AMI N KRE BA NHA TERA! 3H, 4H, 5H

SRS. PASSAGEIROS, BEM-VINDOS A CABO VERDE.
DJA-M TXIGA!
MI NA NHA TERA, N STA NA NHA KASA.
SERTU GO, KALU

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Sobre a problemática de haver um Crioulo-dialeto de Cabo Verde.

Esta semana iniciamos um “Sumara Tempu”, que é uma pausa para avaliarmos das perdas e danos que possamos ter causado com o nosso “pensatempo”.
A realidade entre o prazer da escrita e o reverso do leitor nos surpreendeu. Não se pode falar sobre a língua cabo-verdiana sem causar alarido de prós e contras de todos os lados. Sendo assim, e fiéis ao princípio de que não pretendemos agradar às diferentes opiniões e de que a polémica sobre a LCV/LPT em Cabo Verde pode estar fora de foco, e, principalmente, porque pretendemos partilhar opiniões que possam ser válidas pela positiva, decidimos retomar alguns mitos que ainda fazem vez e nos levam a ter posições radicais _ porque assumidas com base em pressupostos errados!
Então pedimos paciência, alguma atenção e boa vontade. Este pequeno texto e outros que se seguirão chamados de “Sumara Tempu” procurarão repensar, em conjunto com os leitores, os mitos que consumimos e que dizem (des)respeito à nossa língua de berço. Então, lepetê lepetê, chegaremos lá. Pois, no bom crioulo badiu: “papa kenti, kume-l di boita.” Prometemos, desta vez, textos pequenos, claros e com exemplos reais.

Mito nº 1: O CRIOULO DE CABO VERDE É UM DIALETO.

- Nhô sta, Xinói. Nhara sta, Fika. Maninha da-m bensu mô sta-du gora?
Eh, Naiss, mô ki bai ?
- Txiga, fidju fèmia, bu gentis grandi… da-m noba dê-s.
- Txiga poku.
- Kel poku mê.
(…)
- Bom, ti lógu, D. Djeny.
- Ba, n’hora de Deus, Nha Fidje. Salva-me Ti Góia!

Problematização do mito: dialeto de quê?

Não se diz que o Crioulo é um dialeto; o correto seria dizer que o Crioulo é dialeto da língua X. Então se um brasileiro, um português, um angolano… pudessem entender uma das partes do texto acima, o Crioulo poderia ser dialeto do português. Mas não entendem.
O Crioulo, para além de não ser dialeto de nada, ele TEM dialetos (de Barlavento “Salva-me Ti Góia”, de Sotavento “Nhô sta, Xinói”, badiu di fora, di Praia, do Fogo…dialetos regionais; tem o dialeto formal/cerimonioso “Txiga poku”/”kel poku mê”, informal “Eh, Naiss, mô ki bai?”, entre outros.
A língua cabo-verdiana é um idioma independente com sua riqueza e complexidade próprias, de constante inovação e que acompanha todos os momentos da vida cotidiana. É utilizada em todas as situações de comunicação, por todas as classes sociais e em todas as regiões de Cabo Verde. Seria dialeto se fosse uma forma específica de se falar uma língua: como muitos acreditaram que a LCV era uma forma diferente de se falar o português, como se o português fosse uma forma diferente de falar o Latim.
Se o Romeno, o Francês, o Italiano, o Espanhol, o Português… não são dialetos do Latim e sim outras línguas, independentes entre si, que na sua composição inicial, foram uma forma de ramificação da árvore latina, então o Crioulo de Cabo Verde não pode ser dialeto de nenhuma delas.
O correto seria dizermos “língua cabo-verdiana” ou, para quem prefere o nominho, então que seja “crioulo de Cabo Verde”. E, do mesmo modo que dizemos que, em português temos o dialeto carioca, dialeto “caipira”, dialeto “alfacinha”, do Minho, dialeto baiano…etc, referimo-nos a variantes da mesma língua portuguesa, podemos dizer que o cabo-verdiano tem dialetos, como todas as línguas, e que sua variedade diz da riqueza e da maturidade linguística dessa língua: que é de origem mestiça, porém, autónoma.

domingo, 31 de janeiro de 2010

Djunê fala por-tu-guês e você?

Esta é uma história real. Fora os nomes, tudo o resto se passou em Santiago de Cabo Verde, no final da década de (19)90. Duas crianças com acesso à televisão e de uma classe não desfavorecida daquele meio comentavam o seu primeiro dia de aula. Djunê e Zavá são primos. Djunê é filho de uma professora primária, formada. Vai para o primeiro dia de aulas já preparado pela Mamã de que vai ouvir/falar o português. Segue o diálogo em cabo-verdiano com tradução por minha conta:

- Zavá, nhôs papia purtugês?
- Modi?
- Si hôs papia paaaapia purtuges, môs...portugês. Prusóra ka papia ku nhôs purtugês?
- ...
- Zavá, nhôs ka fla "Bom dia, dá licenças, faz favor, como te chamas". POR_TU_GUÊS
- Môs, bô é fastentu, môs. Anôs, nu papia ku bóka, pateta.


TRADUÇÃO:
- Zavá, vocês falaram português?
- O quê?
- Tou perguntando se vocês falaaaaaaram português, cara..português. A professora não falou português com vocês?
- ...
- Zavá, Vocês não disseram "Bom dia, dá licenças, faz favor, como te chamas" POR_TU_GUÊS
- Puxa, cara, como tu é chato, meu. Nós falamos foi com a boca, seu mané.

Se falamos português? Como assim? Nós falamos foi com a boca!

Pensatempo : Língua Portuguesa
e sua relação com a identidade nacional cabo-verdiana


As línguas são essenciais para a identidade dos grupos e dos indivíduos, bem como para sua coexistência pacífica. Elas constituem um factor estratégico para a obtenção de um desenvolvimento sustentável, além de uma articulação harmoniosa entre o que é global e o que é local.
(Dr. Koichiro Matsuura, Director Geral da Unesco/08)

1 Problematização
Existem razões para que à Língua Portuguesa se atribua o estatuto de língua nacional?
Damos à palavra pensatempo o significado de uma reflexão breve, porém neutra; ou, pelo menos, numa perspectiva plural. Num pensatempo, tentamos olhar para o mesmo tema, antes pensado com olhar próprio e convicções havidas, hoje contemplado e “ozerbadu” num outro redesenhar, com o olhar de quem quer redescobrir o mesmo assunto de outra forma. Neste pensatempo, propomo-nos a rever a identidade nacional (cabo-verdiana) numa perspectiva diferente: como contar a história da identidade nacional, sendo a LP protagonista? Ela seria um veículo de transmissão, a memória, um dos elementos …parte da essência? Que papel teria e que estatuto teria a LP na construção da nossa identidade? Para uma fundamentação coerente, duas perspectivas diferentes devem ser consideradas: uma perspectiva política e uma perspectiva linguística; e dois níveis de orientação em política de língua devem ser consultados: o da orientação nacional e o da Organização das Nações Unidas - implementadas pela Unesco.
Iniciamos esta reflexão que pretendemos “ligeira” e de leigos, com uma epígrafe extraída da Mensagem do Director Geral da Unesco, por ocasião da celebração do Ano 2008 – Ano Internacional das Línguas, proclamação feita pela Assembleia Geral das Nações Unidas. A preocupação central da Unesco relativamente às línguas é com a sua protecção e preservação. E o desafio lançado a todos, ao longo da mensagem de celebração, é o de promover um ambiente de multilinguismo, por meio de atitudes e políticas concretas que permitam o seu uso. No ambiente ideal de multilinguismo, todas as línguas existentes e especialmente as que estão em perigo, devem ser usadas e todos os falantes devem esforçar-se por dominar, para além da sua língua materna, a língua nacional, a oficial e, pelo menos, uma língua internacional.
A questão que se deve colocar, especialmente em Cabo Verde é: o que é dominar uma língua? Que línguas dominamos? É ou não um ganho ter duas línguas? Existe conflito linguístico? Se existe uma “concorrência desleal” como já se disse que existe, ela é feita efectivamente “contra” o Crioulo/cabo-verdiano? Não será o TEMPO de nós, crioulos, mestiços culturais assumidos, resolvermos o “Problema do Onkombe”?
2 O Problema do Onkombe
O conceito genérico de domínio de uma língua abarca o falar, o escutar (compreender), o ler e o escrever. O contexto linguístico de Cabo Verde permite que todos os cidadãos residentes tenham contacto com duas línguas em permanente convívio e que são, do ponto de vista linguístico, complementares. Em nosso entender, a diglossia já assumida pelos estudiosos nacionais e estrangeiros, à qual preferimos acrescentar o adjectivo “funcional” é um estado de desenvolvimento que retrata a estória e a História do povo das ilhas. A construção do bilinguismo, sendo assumida politicamente na Constituição e nas políticas do Governo, deve ser entendida como uma medida que requer uma reflexão serena e avisada, do ponto de vista técnico. Em termos estritamente técnicos e numa perspectiva sincrónica, podemos dizer que, em sua maioria, os cabo-verdianos são diglotas e não bilingues e que a construção do bilinguismo passará, necessariamente, por criar políticas activas que permitam um maior domínio da fala em LP e da escrita e leitura em LCV. Ao falante cabe o compromisso de se esforçar por fazer bom uso de ambas as línguas e assumi-las como suas, numa perspectiva de complementaridade e não “de costas voltadas”.
Se fosse adequado considerarmos a imagem da concorrência (linguística), e se em tal cenário pensássemos em vantagens, a LCV não estaria em posição de “desvantagem”. Pois é a fala que realiza uma língua, que a escrita depois _ mas não necessariamente _ tenta dar conta de representar. Existe uma quantidade de informações que gestos e expressões corporais, entoações e mil não-ditos transmitem e que não são representados pela escrita. E quando utilizamos a fala, e principalmente na perspectiva de discurso na acepção de Saussure, pretendemos a produção oral, com as marcas da individualidade, espontaneidade, criatividade, estilo…
Aos que pensam que basta o estatuto de língua oficial para que uma língua tenha prestígio e que chamar um idioma de dialecto desencoraja o seu uso, vejamos as designações que os cabo-verdianos utilizam para se referir às suas línguas: dos movimentos literários ao Parlamento, dos textos legislativos aos científicos, em prosa e verso, em Crioulo e em Português:
Língua Portuguesa: Estatuto- língua oficial
Língua Cabo-verdiana: Estatutos: língua materna, língua nacional, língua de berço, língua di téra, língua di povo. E o melhor de todos: o Crioulo/língua crioula (aqui vale explicar que os cabo-verdianos se autodenominam “crioulos” e que “Nha crioulinha” é uma forma verdiana de dizer “minha princezinha”
Como entender uma política de língua que não repense o nosso falar português? Temos, mesmo, um português realmente falado em Cabo Verde? Pode-se encontrar o registo culto, o padrão… mas e o coloquial/familiar? …o informal, quando ele acontece? Criamos? Inovamos? Quantos falam espontaneamente? Quantos fazem opção real pela LP? Se poucos, como nos parece que vem acontecendo, como poderá acontecer uma reconciliação e uma apropriação com a nossa língua oficial?
3 Língua Portuguesa – Língua Nacional
O conceito de língua nacional é utilizado, frequentemente, em oposição ao da língua oficial. A primeira existe numa sociedade que se realiza, cultural e afectivamente, numa língua cujos laços unem toda uma nação que normalmente tem outra língua que a representa oficialmente; no campo semântico em que se usa o termo língua nacional, estão associados entre si, os conceitos de resistência, afirmação, consciência linguística… Do ponto de vista linguístico, a língua nacional é aquela que facilita a união, a comunicação entre regiões díspares e é conhecida e utilizada por todas as classes sociais, preferencialmente, em qualquer situação de comunicação.
Joaquim Mattoso Câmara Jr , utiliza o termo “língua comum” como sinónimo de “língua nacional”, enfatizando o factor da comunicabilidade dos falantes e admite que “a língua nacional nem sempre corresponde ao conceito estrito de nação, como Estado politicamente constituído e soberano. Num desses estados pode vigorar mais de uma língua nacional (…) e uma língua comum pode vigorar em mais de um Estado”
Segundo a Enciclopédia das línguas no Brasil, língua nacional “É a língua do povo de uma nação enquanto relacionada com um Estado politicamente constituído (…) a língua nacional caracteriza-se como uma em virtude de uma relação de unidade imaginária da língua que é atribuída à Nação.”
Há consenso entre diferentes manuais de que à língua nacional é associada a ideia de língua falada num determinado território que, por reflectir uma determinada herança étnico-cultural, representa um elemento caracterizador de uma consciência nacional e, nos “casos mais evoluídos”, é também suporte de uma expressão literária autónoma.
Ao termo língua oficial, por outro lado, podem estar associados conceitos antagónicos. Na definição dada pela Unesco, ela é “a língua utilizada no quadro das diversas actividades oficiais: legislativas, executivas e judiciais de um estado soberano ou território.”
Na perspectiva de linguística descritiva e sincrónica, Cabo Verde, hoje, só poderia ter como língua oficial, o português, e como língua nacional, o cabo-verdiano. Numa perspectiva de política de língua que melhor serve aos interesses da Nação e do Estado, do País enquanto integrante da CPLP e da ONU, é razoável que se repense, ao lado de uma proposta de oficialização gradativa da LCV, a tematização de um estatuto de língua nacional para a LP. Fundamentos linguísticos para se lançar tal proposta residem nas seguintes definições linguísticas:
a) a língua nacional nem sempre corresponde ao conceito estrito de nação; b) Num desses estados pode vigorar mais de uma língua nacional (…) e uma língua comum pode vigorar em mais de um Estado; c) é uma herança étnico-cultural; d) é também suporte de uma expressão literária autónoma; e) esteve sempre presente em todos os momentos marcantes do processo da caboverdianidade e permitiu e permite ainda que outros povos nos identifiquem;
Como conclusão, diríamos que as ciências da linguagem descrevem a situação linguística e oferecem dados e caminhos possíveis para que os estados possam implementar suas políticas de língua. O Estado decide seus objectivos e metas em relação ao seu património linguístico e pode utilizar as ciências da linguagem para facilitar a concretização das suas políticas. Da mesma forma que existe uma diglossia funcional que é um terreno fértil para a construção do real bilinguismo, existem requisitos mínimos para uma proposta de estatuto de língua nacional à LP, desde que planificada e considerada numa perspectiva de construção. Uma perspectiva de aproximar a LP do falante, de criar um convívio saudável entre as duas línguas, de entender que ambas as línguas são prejudicadas quando uma é considerada, de alguma forma, superior à outra.
Quanto mais dominarmos as duas línguas, melhor nos preparamos para enfrentar os desafios deste mundo em mudança. O problema do onkombe é a sina do mestiço. E de dois rios de costas voltadas, propomos todo o nosso mar, que acolhe os rios e que nos identifica: separando-nos e devolvendo-nos ao mundo, como únicos, singulares, mas fazendo parte do todo que hoje é o mundo globalizado. Falta a todo o mestiço a terceira via, que é a de se encontrar, em paz, com ambas as suas origens. E a África e o africano dar-se-ão melhor com a sua História pois serão dela protagonistas conscientes.
“Daí que a protecção, promoção e valorização das línguas nacionais seja, em muitos casos, promovida explicitamente nas próprias constituições nacionais.”, diz-nos a Enciclopédia Livre. E diz-nos a Unesco na sua mensagem do Ano Internacional das Línguas:
“Temos de agir agora, urgentemente. Como? Encorajando e desenvolvendo políticas linguísticas que permitam a cada comunidade utilizar a sua primeira língua, ou língua materna, o mais ampla e frequentemente possível, incluindo na educação, dominando simultaneamente uma língua nacional ou regional e uma língua internacional. Encorajando também os detentores de uma língua dominante a falar outra língua nacional ou regional e uma ou duas línguas internacionais. Só se o multilinguismo for totalmente aceite poderão as línguas encontrar o seu lugar num mundo globalizado. Por conseguinte, a UNESCO convida os governos, as organizações das Nações Unidas, a sociedade civil, as instituições educativas, as associações profissionais e todos os outros actores envolvidos a incrementarem as suas actividades para fomentar o respeito e promover e proteger todas as línguas, especialmente as línguas em perigo, em todos os contextos individuais e colectivos. (…) O nosso objectivo comum é assegurar que a importância da diversidade linguística e do multilinguismo nos sistemas educativo, administrativo e legal, expressões culturais e comunicação social, ciberespaço e comércio, seja reconhecida a nível nacional, regional e internacional.”
Por um Cabo Verde bilingue, fale mais português e escreva mais cabo-verdiano.
Se preferir, experimente prescindir de uma delas…
Cidade da Praia, 29/12/08

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Sodadi BÔ

Mar,

Céu, Lua, Onda, Estrela, Espuma

Azul

Azul

Azul

Stréla, óndia, lua, mar, Séu

Limpu,

longi, pertu, pertu? Lôngi…

Lôn-gi, Lôn-gi!!

Mar

Mar

Y

Séu

Oh Mar di KauVerdi.

Sinestesia.com

Bossa Nova embala o frio lá fora

E o perfume e a gargalhada dos olhares

O vinho nunca soube tão bem

Cheiro de uva, gosto de maçã, cor de cereja.

Piano, acordes

Tijuca night 2008
C. R.

AMOR

AMOR DE MÃE É ESTAR DOIDINHA POR PEGAR UMA ONDA, MAS FICAR SÓ NA ORELA DI MAR SÓ PROTEGENDO A CRIA.