"ILHA A ILHA. DOR A DOR. AMOR A AMOR"

(Ovídio Martins)

BEM-VINDO - NHÔS TXIGA

NOVO ANO E REGRESSO.

Ainda sem o aparato das TIC, pretendo, lepetê lepetê (como dizemos em Santiago), partilhar os pensatempos que me saltam das mãos e do peito. Mantenha txeu!

DE SANTO ANTÃO A BRAVA

DE SANTO ANTÃO A BRAVA
O nosso Cabo Verde se faz em segunda sementeira, nas três pedras do fogão, no tomar da benção e no rabo de enxada

sábado, 23 de janeiro de 2010

Pasárgada de mim

Retomando o repto de
QUARTA-FEIRA, 14 DE OUTUBRO DE 2009
UMA LEITURA DE AZEVICHES
“Les souvenirs que j’ai de ma vie réelle ne
sont ni plus colorés ni plus vibrants que
ceux de mês vies imaginaires”
(...)
“Pour écrire l’histoire d’un autre, je colla-
bore avec ma propre vie. Qu’on ne cherche
pas à savoir ce qui, dans cette fiction, est
indubitablement moi. On s’y tromperait. Et
mes proches s’y tromperaient autant et plus
que les autres.”

(DUHAMEL,G.In Remarques sur les memoires Imaginaires _ Paris _ Mercure de France_ Sixième édition.).

Um texto equivalente em Português seria:

As lembranças que eu tenho da minha vida real não são nem mais coloridas nem mais vibrantes daquelas que eu tenho da minha vida imaginária.

Para escrever a história de alguém eu colaboro com a minha própria vida. Que não se tente descobrir, nessa ficção, o que seria indubitavelmente eu. Quem fizesse isso enganar-se-ia. E os que me são próximos se enganariam tanto ou mais ainda do que os outros.


COM ESTA CITAÇÃO, QUE É QUASE UM MANIFESTO, INICIO UMA LEITURA PARTILHADA DE MOMENTOS POÉTICOS QUE ME SÃO SIGNIFICATIVOS. RECUPEREMOS O PRAZER DO TEXTO, UM ALÍVIO QUE FOGE Á ORTOPEDIA CANÔNICA E QUE DEIXA, NA POESIA, UM QUÊ DE HUMANO. HAJA ESCAPE PARA A VIDA QUE SOMA À ESCRITA A SEMPRE MESMA VONTADE DE MIM... LIBERDADE E VOZ.

Lembrando Germano Almeida e O Meu Poeta

Que bom que foi ver-te de novo! E mesmo para me chamares de vatel valeu a pena teres vindo. E a propósito que dizes do título que proponho para os Episódios?
Guardava ainda de ti a imagem das calças de ganga e cabelo ao vento quando apareceste na porta com o mesmo sorriso. Reencontrar-te assim foi mais do que alguma vez sonhei no longo deserto onde me deixaste e se o meu corpo não traduziu toda a festa do meu espírito pela tua presença foi só pela fraqueza que ainda tenho de perder as palavras diante de ti e apenas desejar ficar olhando-te, e apenas querer acariciar o teu nariz com os meus dedos. Quanto tempo recuei vendo-te ali? Hoje já não sei se foram anos ou apenas um dia. Tanto tempo e continuas a mesma que um dia me fez pensar que afinal há outros mundos para além do nosso que corria atrás do tempo tentando por ele acertar o passo. Bem sei que apenas tinha visto os teus olhos mas para mim eras todo o mundo reunido na figura que eu vira cintilar na areia a nossa lua naquela noite em que me disseste que a ilha era demasiado pequena para os teus sonhos. Mas tu viste-me assim estático e ironica disseste que afinal já éramos dois a fuscar para a Pasárgada.
Estou no entanto em condições de garantir-te ser natural que eu tivesse ficado embriagado, porém não fusco. Um fusco não tem memória e eu lembro-me de tudo como se estivesse a acontecer neste momento: Bateste, eu abri a porta e por momentos não acreditei que os meus olhos te viam, decerto tinhas acabado de morrer em qualquer lado e o teu espírito vinha numa primeira visita. (p.314)